Você ama e depois respira. Um tempo curto para o ar entrar e fazer o serviço no seu corpo. Você ama, respira e continua. Era isso que eu queria te dizer quando você me chamou de amor, porque eu não sou seu amor, se você não respirar antes. O amor não existe aqui. Eu não sou o amor. Eu não tenho isso. Eu sou o que restou do amor e o que restou de você. Sou suas sobras. Suas migalhas. Seu lixo. Seu esterco. Seu avesso. Seu cansaço. Seus machucados com vários esparadrapos sujos de sangue. Sou seu sangue estagnado. Sou sua pele ralada. Sou a pedra que você tropeça. Sou a doença que você pega. Sou a bactéria do seu travesseiro. Sou a bactéria do vaso sanitário que você senta. Sou a poeira por querer. Sou seu choro sem ombro. Sou sua falta de gosto. Sou sua cicatriz. Sou sua merda! Sou todas essas merdas cuidadosamente separadas em potinhos à venda no mercado da esquina da sua rua cheia de mendigos que roubam sua vista e te pedem o dinheiro que você nunca tem, porque você é pobre demais para dar seu dinheiro a eles, seu hipócrita! Eu sou tudo isso e você ainda me chama de amor. Eu não tenho voz. Não tenho nem garganta. Eu não tenho fôlego. Não tenho nem força. Eu não tenho olhos. Eu não uso óculos. Eu não sinto cheiro. Eu não tenho tato. Eu não tenho ouvido. Eu não tenho língua. Eu não tenho você. Eu não quero mais você. Eu não tenho amor. Eu não quero mais o amor. O amor me fez sangrar. O amor empola a pele e rouba resto de ar que você tem para depois que você amar.
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Um comentário:
Depois do amor, você recupera o fôlego.
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