Para Heitor

Ah, Heitor,
solidão mata!
Solidão de olhos aflitos e tristes:
devoram-se.
Não, Heitor, não quero ser consumida por eles,
medíocres, hipócritas, mentirosos! Inventores de vida!
Inventaram também a minha solidão!
Mexeram na dor de um passante.
Eu passei por ali e gritei com o peito doído: Fica!
Fica, Heitor, meu amor...
Me devora, você,
mas me devora com esses olhos pretos, primeiro.
Aflitos e tristes. Presos no seu túmulo de carne e osso.
Me come, Heitor! Começa, assim, devagar,
como quem não quer nada,
me começa pela boca e depois
desce.
Vem, Heitor, meu amor...
Vem que eu amarei pra sempre esse seu sabor de lembranças tristes
que ontem me fez sair por aí e sentir na pele a hipocrisia solitária da vida.

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