Dentro de você.

Chego em casa.
Luto contra minha própria vontade – a de ouvir sua voz.
Mas luto. Me contorço, me reviro, me esforço, me distraio – ou tento.
Acendo um cigarro. Coloco uma música. Leio temas. Banalidades.

Até novelas.
Te procuro.
Não sobrevivo. Não suporto. Eu não resisto.
Me procuro
e não me encontro. Você não está perto.
Assim, nem eu.

Quero guardar minha vida dentro do seu peito
da mesma forma que a sua está lacrada aqui dentro, amor.

Sinais.

A paz sai pela fresta da porta da sala.
Os pêlos dos braços levantam e procuram por algo.
A faca corta e faz sangrar.
O calendário não chega ao fim.
O relógio não cansa.
Os pés procuram apoio.
As mãos gotejam o calor.
Os passos ficam pesados.
Os sons aumentam.
Suspiro.
Eu ouço perto.
Sou eu.

Não.
É você.
Chegando para passear no meu sonho.

Numa manhã de sábado, na porta da geladeira...

Eu quero um rumo que tenha você como a minha única saída. Quero sair em você, entrar em você.
Quero qualquer verde, qualquer vento, qualquer estrela ardente que me faça bater de frente com os seus olhos. Sentir a força dos seus músculos apertando os meus. O meu corpo bagunçado pela sua presença. Abaixar os meus escudos e te entregar a minha única defesa - ela é sua.
Quero gritar dentro do seu coração a nossa sintonia ecoante que pulsa forte, mas em euforia rítmica.

Quero me soltar das peças íntimas, que seguram o meu corpo, para que você me devore, para que eu me abra inteira numa só direção.
Mas, por favor, meu amor, não se assuste! Isso é a minha calmaria desequilibrada que, vez ou outra, teima em derramar todo o meu amor.