Sinto neste momento meu corpo reagindo a sua ausência e você está tão presente aqui dentro de mim. Você nada neste mar que tanto chorei pra dentro e por sua causa hoje convivo com excesso de sal. Logo você que disse que a vida era doce levar. Me diz por que me sinto tão vazia quando penso em você, me diz? Aproveita e me ensina a parar de inventar esses amores que me consomem, me congestionam, me entopem. Que sufoco passar os dias sentindo o estômago e exigindo demais dos pulmões. Que sufoco sentir seu cheiro e abrir os olhos e ver outros olhos, que não os seus castanhos. Não bastava a solidão das músicas, dos seus livros preferidos? Não sei o que é desamor. Não sei sentir isso, meu amor. A vida não me ensinou a ser assim. Sou tola, esqueceu? Você ria doce. Ria tanto. Os olhos pequenos, os ombros curvados, as mãos no rosto e a dificuldade de voltar a bochechas ao normal. Parecia feliz. Estou triste.
Senti seu perfume chegar em mim enquanto subia as escadas daquele prédio cansado. Ninguém me disse que esse cheiro estaria me esperando com um vestido de frô rosa, que começava lá debaixo e subia até cá em cima no peito. Abri a bolsa, peguei uma pomada e passei na pele doída pra tentar distrair o cheiro que vinha junto, porque eu já tinha um calo bem aqui no meio, perto do pescoço. E você me cheirou inteira e eu, por medo, te pedi pra olhar pra janela porque a vista do prédio é tão bonita que a gente podia esquecer de sentir o cheiro que invadia nossas narinas e seguia o caminho do peito. Mas quem foi que ousou pensar que esse cheiro a gente consegue disfarçar? E quem diria: você sussurrou bem perto aqui do meu pescoço, uma mão limpando a pomada e a outra empurrando meus cabelos pra trás: amor chega pelo cheiro, sente?
O amor que você quer
Eu me despi inteira e te ofereci meu corpo. Você preferiu ficar com as roupas que estavam no chão.
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