Clamor.

Do furor
das flores
ouve-se:
gotas de chuva!

afã.

chega
de flores
de festa
de cheiro
de cor.

agora
vem e
toca em mim.

“As pessoas dos livros”

Vivo dentro de um livro de ficção.
Sou um romance mal terminado com gostinho de começo.
Uma frase que cabem duas solidões.
Eu sou aquela de muitos nomes.
Muitas vontades. Eu sou maior que a vida real.
Sou aquela que escapa de um tiro na porta do metrô
e perdoa por amar demais.
Tenho a cabeça cheia de erros -
todos vociferando como um relógio a tiquetaquear em noites de silêncio -
tenho um coração que dói [la-te-ja] mais que a dor de um parto.
Mas eu posso. Sou ficção. [De Manoel ou de Fernanda]
Sou aquela que pode. Que faz.
Sou aquela que é. Sou o que sou. Sem medo

e nada mais.

Platonices.

Um dia Adélia,
no outro Fernanda,
no outro a Martha,
e até o meu querido Caio,
que mal conheço.

Coração livre é assim.
Cada dia suspira por um.

Quês.

Quando silencia
qualquer ruído vira alarde.
Quando a solidão me faz companhia
qualquer amor grita.



[no meu peito]




Ana Cañas - Aquário.