à noite, pernilongos dispersam palavras como
amor, janelas, teatro e tranças
preciso ficar no escuro
para que você volte, para que o sono chegue
percebo que há voos também vindo da cozinha
são músicas compostas para pálpebras insones
passa pela minha cabeça fabricar repelentes caseiros
mas desisti de colocar seu nome nos poemas
IV
difícil não saber em qual
janela você sente outubro
ou quando uma cena minha
escorre entre suas pernas
dar seu nome a um poema
parece desperdício da minha
atual palavra preferida
III
desconhecendo a cidade
visito sua rua
penso em qual dessas
casinhas ouropretanas
você estaria fabricando
saudades por alguém
em qual dessas janelas repousam
suas tranças
seus abraços
seu não-amor por mim
Eu sou um pássaro
eu sou um pássaro
voando sobre os humanos
descobrindo sensações
meu primeiro voo após
a morte
voando sobre os humanos
descobrindo sensações
meu primeiro voo após
a morte
A morte
remédio debaixo da língua
língua dentro da boca
boca maior que o ouvido
ouvido ouvindo o que quer
o que quero?
remédio debaixo da língua
língua dentro da boca
boca maior que o ouvido
ouvido ouvindo o que quer
o que quero?
remédio debaixo da língua
Ogum
das águas caídas dos
banhos de folhas
escorrem também algumas
tristezas pelo corpo
hoje, como quem sempre
fez café para dois
pus sobre a mesa
brioches e roscas
e um peso de papel
carregando um verso:
o amor ainda arde
banhos de folhas
escorrem também algumas
tristezas pelo corpo
hoje, como quem sempre
fez café para dois
pus sobre a mesa
brioches e roscas
e um peso de papel
carregando um verso:
o amor ainda arde
difícil manter a alegria intacta
nas retinas anoitecidas tão cedo
ou no vocabulário apressado em busca
de palavras para um novo grito
uma guerra que começa na cabeça
e se desfaz bem no centro
do espiral das horas
onde a língua não alcança e
o gosto se perde entre os passos
de dança que faz a memória do que sou
com as repetidas cenas da vida
nas retinas anoitecidas tão cedo
ou no vocabulário apressado em busca
de palavras para um novo grito
uma guerra que começa na cabeça
e se desfaz bem no centro
do espiral das horas
onde a língua não alcança e
o gosto se perde entre os passos
de dança que faz a memória do que sou
com as repetidas cenas da vida
Mãe
ela tentou me ensinar a respirar
apenas por uma narina
quando minha cabeça doesse
doía demais segura
e solta nunca consegui
minha cabeça continua doendo
ontem ela deixou de respirar
apenas por uma narina
quando minha cabeça doesse
doía demais segura
e solta nunca consegui
minha cabeça continua doendo
ontem ela deixou de respirar
Amor de carnaval
ela é toda feita de arte
umas cores nos cantos dos
olhos fazem sombra e
me escondem do calor de carnaval
ah, meu primeiro carnaval
toda vez que encontro
Joyce eu fico feliz
e sorrio quieta
ninguém pode perceber
acontece alguma coisa
dentro de mim
é como ler Gustavo Vinagre
quando estou na empresa
umas cores nos cantos dos
olhos fazem sombra e
me escondem do calor de carnaval
ah, meu primeiro carnaval
toda vez que encontro
Joyce eu fico feliz
e sorrio quieta
ninguém pode perceber
acontece alguma coisa
dentro de mim
é como ler Gustavo Vinagre
quando estou na empresa
Fim de férias
tudo se encontra nessa mesa
branca: roupas fones de ouvidos
cremes livros não lidos
filmes por assistir
orçamentos mal elaborados
trabalhos incompletos
palavras perdidas
a preguiça do amanhã
um'alma vazia vocifera
ocupando o espaço entre
a grade da janela e a mesa
ao lado, o crachá da mesma
velha empresa de sempre
esperando nunca mais ser usado
branca: roupas fones de ouvidos
cremes livros não lidos
filmes por assistir
orçamentos mal elaborados
trabalhos incompletos
palavras perdidas
a preguiça do amanhã
um'alma vazia vocifera
ocupando o espaço entre
a grade da janela e a mesa
ao lado, o crachá da mesma
velha empresa de sempre
esperando nunca mais ser usado
Vontade
chorar feito criança
abraçada nas pernas
dobradas levantar correr
correr abraçar as pernas
no ar me lançar feito
bomba atômica numa
piscina funda funda
morrer de braços abertos
abraçada nas pernas
dobradas levantar correr
correr abraçar as pernas
no ar me lançar feito
bomba atômica numa
piscina funda funda
morrer de braços abertos
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