mudança de comportamento II


passei a ser um muro de lamentações
e preciso assumir minha dor agora:
- dói!
eu não sei o que em mim ainda sente.
temo viver dessa dor o resto dos meus dias e
ou até que minhas respirações incompletas
e forçadas
se esgotem de continuar.
o que eu preciso é apenas continuar
e continuar e continuar...
sentei num ponto da cidade
cheia de olhos esbugalhados e desatentos
e acendi um cigarro – entre tantos que passei a fumar.
uma garotinha de uniforme me olhava
e eu disse:
não fume: cigarro faz mal.
mas não ame,
principalmente. 

Necrólogo para o amor



Parei para te ver passar
como quem ultrapassa o vermelho
do medo
e o coração, de susto, salta pela boca.
Arregalei os olhos para o triz
que a melancolia se fez diante do meu corpo parado.
Vi que não há em mim nada mais
do que uma sepultura de amores
e tristezas
e uma vontade de que o corpo adormeça
nesse mesmo cemitério
de ossos que confessaram,
num domingo à tarde,
sentir amor.