No vigésimo terceiro andar, acendo um cigarro para tentar diminuir a vida e solto toda a fumaça na sua cara lavada, descarada e sem vergonha. Te seguro pelos cabelos e te empurro pro chão, porque o chão é onde você merece ficar. Falo - em voz alta o suficiente para você me ouvir e baixo o suficiente para o mundo te conhecer: Vadia! Te xingo, te bato e cuspo na sua cara: Vadia! Como eu posso deixar você me levar assim? Chuto o resto de você pro canto da sala e te quebro em diversos pedacinhos miúdos. Não quero mais ver seu sorriso imundo, seus dentes, sentir seu hálito perfeito. Não! Piso sem dó nos pedaços do seu corpo, enquanto vou até a cozinha. Acendo outro cigarro. Você, ali no canto, toda despedaçada. Olho pra você e rio, enquanto as lágrimas caem. O nariz escorre. O copo de uísque na mão. O cigarro se apagando. A cabeça girando. Olho pra mim: rasgado, bêbado, fedido: Filho de uma puta! – e, triste, rio de mim. Olho mais uma vez pra você e te vejo segurando as pernas com medo de mim ou com medo do nosso amor sair rasteiro pela fresta da porta da sala. Ouço você em lágrimas: Fica! No fundo de nós, a música que eu não queria. A vista daqui de cima é bonita, não é, meu amor? – eu disse bêbado. Olho mais uma vez pra você e você me pede de novo. Olhos vermelhos. Olho pra baixo e sussurro: não me deixe acordar sozinho, não me deixe acordar sozinho, amor - e voo livre por aí...