Senti-mentos.

Sentir sua mão em dias de primavera,
o cheiro, o sabor.
Meu coração fica aos pulos querendo te tatear inteira.


Discrição mal intencionada.

Ruído da chave,
rangido da porta.
Passos bem tocados,
perfume se espalhando
pelos cantos da casa.

E foi assim.
Sem confidências,
ela entrou
e fez amor comigo.



Música: Moody's mood for love - Amy Winehouse.

Armadilha.

O vento sussurrou seu segredo,
de leve, para o meu corpo.
Eu caí em meio às flores,
ao silêncio
e à poesia
e depois, eu amei.



Música: You know I'm no good.

Samba do meu amor.

O samba só começa depois que a cuíca se estrondeia
e depois que o tamborim anuncia a sua chegada.
Meus passos só se passam depois que a sua voz
entrega sua mansidão e divide comigo a sua paz.

Ah, como eu queria ser sua tarde azul
e voar feito passarinho, que fugiu com medo,
pro seu colo de lençol bem feito.
Ah, como eu queria pegar na sua mão
e te levar pro meu mundo
onde a vida é a escolhida pra ser entregue o nosso prazer.

Meu samba só começa depois que você me chama pra dançar.
Eu sigo o caminho dispensando o estrondeio dos instrumentos
e canto alto o belo jeito malandro da vida
de gozar sua alegria num botequim qualquer, numa tarde qualquer.

Você que lança seu desejo perfumado
que só me beija com o seu gosto molhado
é a vida que eu entrego agora o meu prazer.
Você que leva junto ao pescoço
um cheiro de pele não desvendado
é o segredo que eu quero gritar na hora que o samba tocar.

Ciúme.

Tá pulando pra fora do meu corpo
e meu coração não segura mais.
(Perdeu as forças, coitado.)


Um em dois.

Peguei a fita colorida sobre a mesa
e dei um laço naquele sentimento.
Era só pra eu lembrar
(quando algum pensamento audacioso tentar atropelar a beleza
do seu rosto)
do seu jeito lindo de olhar
quando está com sono.

Eu quis que tocasse bossa nova
pra dançar coladinho com você.
Pôr meu rosto no seu rosto
e me perder dentro do salão.
Dar à vida o prazer de viver o nosso amor
sossegado e presente, feito o silêncio.

Fiquei pensando que a vida ia gostar
de se balançar com a gente.
(feito adolescente)
Ia fazer festa para os nossos sorrisos largos
e para os nossos passos curtos
ao ritmo do sentimento que enternece o nosso tempo.




Do verde nos teus olhos.

Eu podia perceber cada pedaço de sentimento que caía daqueles olhos como eu nunca havia percebido em nenhum outro olhar. Eles estavam sorridentes a cada palavra que eu soprava, a cada toque na pele, a cada risada tímida que eu soltava. Vez ou outra, os cílios dela se encontravam para dar forças a saudade e aquele movimento era tão forte, que me fazia correr com os braços abertos para quebrar toda a intensidade da distância que tinha entre nós. Eram naqueles olhos que eu me completava. Os meus, muito tímidos, dançavam com os dela ao embalo do mais belo som já ouvido por nós duas. O som me trazia sossego e um sorriso bobo no rosto de quem quer sempre ter aquilo para entrelaçar os afetos. Era aquele olhar que acompanhava o ar veloz de uma noite de chuva grossa. E o amor estava lá, ainda inexplorado, mas prestes a cair tão rápido quanto aquela chuva.



Música: Tears dry on their own - Amy Winehouse.

Coração danado.

Hoje ele não quer cantar nada que ele saiba de cor.
Hoje ele quer inventar um jeito diferente de cantar
só pra dor do coração se enganar.
Ela atropelou as rimas da canção
e fez a voz dele balançar num ritmo só.
Agora ele tenta, de novo, se equilibrar
que é pro coração parar de chorar.

Mas ele tentou,
ele cantou o que tem que cantar
só pro coração parar de soluçar.
Mas se ele não parar,
ele vai ficar esperando o próximo sorriso passar
que é pra ele sorrir e acompanhar.

Sorriso bonito não pode andar sozinho,
ele sempre diz.
E logo, logo o coração já tá suspirando de novo.
Coração mais danado esse!
E lá vai ele andando todo malandro pela rua
com a gravata posta e chapéu de sambista
olhando pras morenas que passam
que é pra vida ser mais divertida.




Música: Empty shell - Cat Power.
Ouçam Cat Power, por favor.
;)

Fim do mundo.

Assassinaram a poesia,
tiraram o jazz da vitrola,
pintaram as vidas de cinza
e desacreditaram na fé.

Fim.


Música: Inexplicata - Apollo Nove.

Tempos de solidão. (Ou de desamor.)

Solidão não atrapalha,
não dói.

Solidão é companhia para o pensamento.
Ela costura aquele horizonte agitado e
enternece o sentimento.


"Tempos em que, na verdade, é o desamor que te consome e você faz uso da imaginação para tentar provar que ser sozinho não é tão ruim."



Música: O mundo - Moska.